O Último Dragão do Silêncio

O Último Dragão do Silêncio

Uma fábula sobre encontrar a paz em um mundo barulhento


Autor: Rapha Reis

Edição e Diagramação: Rapha Reis

Gênero: Conto de Fadas | Fantasia | Literatura Brasileira




Introdução

Vivemos em um mundo que nunca para de falar. Sons, notificações, cobranças, expectativas — tudo clama por atenção, tudo exige resposta. Mas, e se a resposta não estiver no barulho, e sim no silêncio? Essa fábula nasceu do desejo de encontrar, entre as cinzas da ansiedade e o caos cotidiano, uma fagulha de paz. 'O Último Dragão do Silêncio' é mais que uma história: é um convite. Ao virar cada página, você será guiado por uma jornada interna, espelhada nas aventuras do personagem principal. Um conto que, embora envolto em fantasia, fala profundamente sobre o real. Vamos juntos?


Capítulo 1 – O Vale do Silêncio

Durante muito tempo, acreditou-se que os dragões haviam desaparecido do mundo. As histórias se transformaram em lendas, as lendas viraram susurros e, com o tempo, até os sussurros se calaram. Mas havia um vale escondido — entre montanhas esquecidas pelo tempo — onde o último deles ainda dormia. Não era um dragão como os dos contos de fogo e destruição. Era silencioso. Tão silencioso que sua presença só foi percebida quando se aprendeu a ouvir o que não tem som.

Foi nesse vale que uma menina chegou. Não por acaso, mas por cansaço. Cansada do barulho do mundo, dos gritos invisíveis das redes sociais, das vozes que lhe diziam quem ela deveria ser. Carregava nos ombros o peso de tudo aquilo que não conseguia explicar. Não queria encontrar um dragão. Queria encontrar paz.

Os moradores dos vilarejos ao redor evitavam aquele lugar. Diziam que lá dentro o tempo parava, que os pensamentos gritavam alto demais, que o silêncio era tão profundo que podia enlouquecer. Mas a menina não teve medo. O que ela temia mesmo era continuar vivendo como se tudo estivesse bem quando não estava.

Ao cruzar os limites do vale, sentiu o mundo mudar. Nenhum som. Nem vento. Nem folhas. Apenas um vazio. E no centro dele, a gruta. Escura, imensa, viva. Ela não chamou. Apenas entrou. Algo dentro dela sabia: para encontrar o que procurava, precisaria primeiro se perder.

O dragão a esperava. Não com olhos ferozes, mas com olhos de afeto. Havia compaixão neles. E silêncio. Um silêncio que dizia: “Eu também já estive onde você está.”


Capítulo 2 – A Escuta do Invisível

Dentro da gruta, o ar era denso e calmo. Não havia palavras, apenas presença. A menina se sentou diante do dragão, e por longos minutos — ou horas, talvez dias — apenas se olharam. Era estranho não precisar explicar, não precisar ser forte. Pela primeira vez, ela sentiu que podia apenas... ser.

O dragão não falava. Ele escutava. E naquele silêncio cheio de escuta, ela começou a contar. Falou de sua infância, da dor de crescer, dos medos que carrega no peito e que ninguém parece ver. Falou da solidão que a acompanhava a todo instante, dos sorrisos impostos, da ansiedade que a acorda antes mesmo do sol.

A cada palavra, o dragão não julgava. Apenas respirava. E seu respirar parecia embalar a menina, como se dissesse: “Continue, estou aqui.” Era como falar com o próprio tempo. Como abrir o peito diante de um espelho que reflete a alma.

Foi então que a menina viu: o silêncio não era vazio. Era abrigo. Não era ausência. Era espaço. E nesse espaço, começou a ouvir a si mesma. Vozes que foram caladas por anos. Desejos que ela havia sufocado para agradar os outros. Dores que nunca foram vistas por ninguém.

Ela chorou. Chorou até que não houvesse mais dor para escorrer pelas lágrimas. E, no fim, apenas respirou. Pela primeira vez, sem peso. E o dragão, com olhos de afeto, fechou as pálpebras. Não porque dormia. Mas porque confiava. Sabia que, ali, ela começava a despertar.

Capítulo 3 – O Espelho e a Essência

Nos dias que se seguiram — se é que o tempo ali ainda existia — a menina começou a andar pelo vale. Havia árvores antigas, pedras que guardavam memórias, e riachos que sussurravam histórias. Cada canto desse lugar parecia pulsar com a mesma frequência do coração dela. Tudo era silêncio, mas nada era mudo.

Ela aprendeu a caminhar com os pés descalços, a sentir o chão. Aprendeu a ouvir o som do próprio pensamento sem se perder nele. E, mais que tudo, começou a ouvir o dragão mesmo quando ele não estava por perto. Era como se, ao se conectar com o silêncio, ela acessasse também a sabedoria do dragão.

Ele não lhe deu respostas prontas. Em vez disso, ensinou-lhe a fazer as melhores perguntas.

Não, “Por que isso aconteceu comigo?”: Mas, “O que posso aprender com isso?”. 

Não, “Como faço para ser aceita?”: Mas, “O que me impede de me aceitar?”.

A cada descoberta, a menina deixava para trás uma camada. A máscara da perfeição. A armadura da força, forçada por ela. O escudo da indiferença. 

Ela não estava se tornando outra pessoa. Estava, pela primeira vez, se tornando quem sempre foi.

E então, um dia, ela entendeu: o dragão não era seu mestre. Era seu espelho.

Capítulo 4 – A Montanha e a Memória

O vale começou a mudar. As árvores floresciam mais vivas, os ventos dançavam entre os galhos, e a luz que entrava pela gruta não era mais sombria — era dourada. A menina sentiu que algo dentro dela também estava florescendo.

Mas como toda jornada, também surgiu uma dúvida. “E quando eu sair daqui?”, pensou. “E se o mundo for cruel demais para o que me tornei?” 

O dragão a observava, como quem sabe que certas respostas não se dizem — se vivem.

Naquela noite, ela sonhou com sua infância. Lembrou-se da primeira vez que sentiu que não podia ser quem era. De quando aprendeu a se calar para caber. Acordou com o peito apertado. Quis fugir. Quis desistir. Mas ficou. E nesse ficar, encontrou coragem.

O dragão a levou até o alto da montanha. Lá de cima, ela viu o mundo. Vilas, pessoas, movimento. E também viu a si mesma — ou o que restou da menina que chegou até ali. Agora havia alguém inteiro. Pronto. Em paz.

“Você precisa voltar”, disse o dragão com a voz do vento. E ela entendeu. O silêncio não era fuga. Era preparação.

Capítulo 5 – O Retorno e a Semente

No último dia, a menina se despediu do vale. Não houve tristeza, apenas gratidão. O dragão, agora desperto, olhava para ela como quem sabe que algo foi cumprido. Ele não a acompanhou até a saída. Porque sabia: ela não ia sozinha.

Ela levava o silêncio com ela. Não como ausência de som, mas como presença de alma. Como bússola. Como abrigo.

Ao atravessar a última árvore, ouviu o mundo novamente. Os gritos, os ruídos, as pressas. Mas algo dentro dela permanecia firme. Silencioso. Vivo.

Ela não sabia o que a esperava. Mas sabia quem era. E isso bastava.

O último dragão do silêncio voltou a dormir. Mas apenas por fora. Dentro dela, ele rugia com a paz de quem já não precisa lutar.

E assim, o mundo surgiu novamente para ela. Barulhento. Intenso. Mas agora ela carregava uma coisa diferente. Uma semente que germinava toda vez que ela escolhia parar, respirar... e escutar.

Conclusão – O Silêncio que Vive em Nós

Não é preciso escalar montanhas ou encontrar dragões adormecidos para descobrir o que é realmente importante. A verdadeira mudança acontece dentro de nós.

Essa história não é apenas sobre uma menina e um dragão. É sobre mim. Sobre você. Sobre todos nós que, em algum momento da vida, sentimos que o mundo faz barulho demais e que nós... já não sabemos onde nos encaixamos. É sobre essa sede de paz que não se sacia com distrações, mas com presença.

Talvez o dragão nunca tenha existido do lado de fora. Talvez ele sempre tenha morado em nosso silêncio mais profundo — aquele que sufocamos com medo de ouvir o que ele tem a dizer. O último dragão do silêncio não é criatura. É consciência. É sabedoria esquecida. É a parte de nós que escolhe pausar, respirar, sentir.

Essa história continua cada vez que alguém fecha os olhos e se permite estar. Quando encontra beleza no não dito. Quando percebe que há mensagens que só o silêncio sabe entregar.

Talvez você também tenha dentro de si um vale escondido. Uma gruta. Um dragão.

E talvez esteja na hora de voltar até lá.

Não para fugir do mundo. Mas para voltar a ele... inteiro.

Com a alma desperta. Com o silêncio vivo.

Porque quem guarda o silêncio, guarda também a vida.

E o rugido do último dragão nunca se apaga. Ele apenas muda de lugar.

Agora, ele está com você.


Agradecimentos.

Agradeço a todos que, em algum momento da vida, me ofereceram silêncio.

Àqueles que souberam escutar, mesmo sem entender. Aos que me esperaram sem exigir palavras. Aos que me abraçaram quando eu não soube explicar o que sentia.

Agradeço ao silêncio por me curar.  E à escrita por me permitir compartilhá-lo.

Este livro é para todos que já se sentiram engolidos pelo barulho.

E também para aqueles que, em silêncio, escolheram continuar.


Com carinho,

Rapha Reis


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6 Comentários

  1. Excelente reflexão. Com esse correria absurda das cidades grandes, acabamos nos esquecendo do quanto o silêncio é importante para nós. O mundo está muito acelerado e vivemos em um caos total, as vezes é necessário para um pouco e voltar para nós mesmos. Parabéns pelo conteúdo...

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    1. Muito obrigado pelo carinho, espero que goste dos próximos livros que irei publicar também...

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  2. Parabéns pelo conteúdo, simples e direto para passar uma mensagem tão importante para nós, o valor do silêncio em nossas vidas. Ótima reflexão. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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    1. Muito obrigado pelo carinho, espero que goste dos próximos livros que irei publicar também...

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  3. Amei a história e me identifiquei demais. O despertar é necessário, nos faz viver com mais leveza e mais presença. Mais silêncio e menos barulho. Parabéns pela história.

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    1. Monique, que coisa linda ler seu comentário! 🥹💛
      Saber que a história te tocou e fez sentido no seu coração é o que dá propósito ao que escrevo. A gente realmente precisa desse despertar… pra viver com mais alma e menos pressa. Obrigado pelo carinho!

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